Como surgiu a Alice?
Charles Dodgson, ou melhor, Lewis Carroll já que estamos a falar da sua faceta de romancista, era um homem tímido, introvertido e conservador.
Gostava imenso de crianças e de lhes contar histórias.
No dia 4 de Julho de 1862, convidou as três filhas do seu amigo Liddell - Alice, Lorina e Edite - para um passeio de barco no rio.
Durante o passeio, como já era hábito sempre que estavam na companhia de Lewis, as três meninas pediram para que lhes contasse uma história muito divertida. Lewis começou a contar a história à medida que ia remando ao longo do rio. Fez três tentativas para que a história terminasse mas as meninas não o permitiram e iam pedindo para que continuasse. Quando a história terminou já passava das oito da noite e com ela findou também o passeio de barco dos quatro amigos.
Antes de se deitar, nessa mesma noite, Lewis escreveu toda a história tal como a tinha contado a Alice e às suas irmãs. Chamou-lhe Alice Debaixo da Terra. Só dois anos mais tarde, em 1864, é que a tornou a ler. Acrescentou-lhe então algumas personagens, acrescentou alguns capítulos (a história ficou com, sensivelmente, o dobro das páginas) e alterou o título para Alice no País das Maravilhas. O livro foi editado, no ano seguinte, em 1865. Seguiu-se-lhe, seis anos mais tarde, Alice do outro Lado do Espelho, em 1871.
Alice no País das Maravilhas
(A obra completa manuscrita por Lewis Carroll )
Quem lê estes dois livros maravilhosos e descobre todo aquele mundo de aventuras fantásticas e personagens mirabolantes, livros onde tudo parece governado pelo acaso e criado ao sabor da imaginação de Lewis Carroll, desengane-se.
Muitas das personagens e situações dos livros foram inspirados em pessoas e factos reais pertencentes do quotidiano de Lewis e da comunidade onde viveu.
A começar pela própria Alice...
Alice Liddell
Duas fotografias tiradas por Lewis Carroll
Foi Alice Liddell, a filha do seu amigo Liddell, que inspirou Lewis para dar vida à pequena Alice.
Também a nogueira onde aparece o Gato de Cheshire, o gato que está sempre a rir, ainda hoje pode ser vista no jardim do Colégio de Deanery...
O Gato de Cheshire
E, na Catedral de Ripon, onde o pai de Lewis exercia funções de reverendo, existe talhada em madeira uma imagem de um grifo que serviu de inspiração para o Grifo amigo da Falsa Tartaruga, grifo que é também o símbolo do " Trinity College".
O Grifo na Catedral de Ripon O Grifo do País das Maravilhas
Os poemas e os versos que Alice recita, e que parecem não ter sentido nenhum, são sátiras aos poemas enfadonhos que as crianças inglesas daquela época tinham que saber de cor.
Quanto ao poema que Alice descobre no Livro do Espelho, e que só se consegue ler quando está reflectido no espelho porque está escrito ao contrário, foi na realidade escrito pelo sobrinho de Lewis, Stuart Dodgson Collingwood.
JABBERWOCKY
Era acendefogoahora e os plantuosos taxugantes
Girandavam e furandavam na passerva
Todos infláveis os burugaves
Foralar os xularecos dentafiavam
Guarda-te do Jabberwocky, filho!
Das mandíbulas que mordem, das garras que fincam.
Guarda-te do pássaro bisnau e evita.
O Bandersnatch da fita.
(...)
Um, dois! Um, dois! Zás, catrapás,
A espada vorpal foi cortando.
morto o deixou,
E com a sua cabeça galufante voltou.
(...)
Também o dia do Lanche Maluco não
é uma data ao acaso mas sim o verdadeiro dia de aniversário de Alice Liddell, 4 de Maio.
O Lanche Maluco
A história que o Chapeleiro e a Lebre de Março contam a Alice sobre as três irmãs que vivem num poço de mel - Elsie , Lacie e Tillie - refere-se às três irmãs Liddell, respectivamente, Lorina, Edite e, claro está, Alice.
A Porta que Alice ordena ao criado Rã que abra, é a caricatura da porta Norman da sacristia da Igreja onde o pai de Lewis Carroll era Reverendo.
A Porta Norman
O Capítulo sobre o Leão e o Unicórnio é inspirado nos símbolos das bandeiras de Inglaterra e Escócia, respectivamente.
Lewis aproveitou as características mais marcantes de alguns dos seus colegas na Universidade de Oxford e utilizou-as na caracterização de algumas das personagens dos seus livros:
Conselhos de uma Lagarta
Brilha, brilha, morceguinho!
Como te invejo!
Voa pelo céu
Como um tabuleiro de chá. Brilha, brilha...
Brilha, brilha...
Uma Corrida Maluca
Humpty Dumpty
O próprio muro onde Humpty Dumpty se balançava é uma caricatura dos muros da Universidade Oxford.
Na beira do Lago, onde Lewis e as três irmãs passeavam de barco, existiam de facto algumas cobras que inspiraram Lewis na história do Pai Guilherme que equilibrava uma cobra no nariz.
As três crianças tinham também, dias antes, assistido a uma actuação de equilibristas e acrobatas que estava de passagem por aquela região.
Pai Guilherme e a cobra
Quer tudo isto seja ou não pura coincidência, o certo é que as aventuras e peripécias de Alice continuam a encantar os seus leitores, jovens e adultos, tal como naquela tarde soalheira de domingo, encantaram as meninas Liddell.
Aliás, os livros foram publicados, sem existir indicação de se eram para crianças ou para adultos. Quem os lê, independentemente da idade, fica fascinado com tanta loucura e disparate.
O êxito de Alice foi tal que a verdadeira Rainha - não a de Copas, mas a Rainha Vitória - chamou Lewis Carroll à sua presença dizendo-lhe que tinha adorado o livro.
E perguntou:
- O Sr. já escreveu mais algum livro?
- Já, Majestade. Já escrevi mais alguns além deste!
- Quero lê-los todos! Mande-me um exemplar de cada!
No dia seguinte, chegavam à presença de sua Majestade, a Rainha Vitória, todos os tratados matemáticos escritos por Charles Dodgson (Lewis Carroll).